domingo, 18 de dezembro de 2011

Flores Mortas

Tocam os sinos da catedral
metem-se pelas portas metálicas
o conglomerado de corpos amontoados
nos vagões do coração dilacerado paulistano
Pulsam no suor do cansaço
a velocidade dos compromissos cumpridos ou atrasados
de mais um dia fatídico dos trabalhos mal pagos
Pelas artérias mecânicas transportados
até às células submersasno mais improváveis lares periféricos
são todos muitos: Pais, empregados, filhos e padrastos
presos no olhar extasiado dos sonhos estagnados
Olhos que adormecem abertos
não se pode passar da estação
só acordam com o novo anúncio da mais nova cerveja na televisão
São o sangue, a força, as pedras de toda essa selva
que não se permitem mais quebrar vidraças
porque as letras do anúncio indicam o proibido
não fumar, não beber, não pensar
e se quebram as regras, se tornam grãos oprimidos
caçados e propinados com nome de bandido pobre analfabeto bárbaro
bloqueados pelo braço repressor do estado
que só quer proteger a sociedade do descontrole irracional
gerado pela dor do grito do ser racional


Já passou das 10 e a novela acabou
resta o sono dos músculos desajustados
a cama precisa ser trocada, à prestação
mas nem o mínimo se pode tirar do salário
que nem engorda mais o caldo do feijão

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