sábado, 13 de outubro de 2012

Interpoemalidades textuais

Acesse o link seguinte: http://artepalavrapensamento.blogspot.com.br/

É com grande prazer que apresento aqui a criação da minha querida amiga, poeta e artista Geandra Parmigiani.
O blog " Pensamentear" abre espaço para ideias, discussões e desvaneios artísticos elaborados a partir  das leituras dos célebres artistas que marcam por séculos a vida de todos nós.
A proposta intertextual possibilita o diálogo, não só com os textos aqui postados, mas com as impressões dos próprios leitores e os convida à discussão das obras clássicas que marcam a vida de todos.
Fiquem à vontade para se deliciarem com essa desvairada receita lírica e postem os seus comentários que são importantes para a continuidade dessas obras.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Inspira o corpo em chama
em faíscas de gotas geladas do mar
a onda que nada na pele ´
é a vida que aflora as verdes madeixas da ilha

Expira o corpo em fumaça
em sinfônicas partículas líricas no ar
a poesia que canta o vento
é a vida que volta a aflorar as verdes madeixas da vida

Ex-piração da vida

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Não,
Os helicópteros não suam com o tráfego da avenida
E o que resta para quem come o resto
É tomar mais uma para achar que isso é uma brisa
Pássaros-cegonha com asas motorizadas
O que temos de sobremesa?
Meia marmita doada com carne estragada
para os trabalhadores, coxinha de frango com farinha vencida
Uma dose de cansaço e horas perdidas
no trânsito engarrafado dos carros com ar condicionado
E quem consegue pensar com tanta fadiga?
Ah, deixa isso para amanhã.
Hoje quero a janta requintada
e a minha cama quentinha
Ainda tenho um morro para subir

MADALENA

Não era em toda a sua completude,
a alma inexorável de uma mulher resistente
e vencida perante o tempo.
Caminhava com sua pequena bolsa de saudades por todos os lados,
com seus papéis de bombons, cartas pela metade e fotografias manchadas pelo tempo.
Seus pés pairavam entre o arrasto e o escorrego dos dias sem propósitos.
Mas um dia, caiu de cara na ladeira
e seus papéis voaram ao vento
as palavras ficaram sem eco no olhar de quem estendeu a mão
para amaciar o seu tombo implacável.
E aí raiou o sol na janela alugada de um cubículo colorido.
A porta abriu, e como um roteiro presumível
foi-se o olhar perdido com as sacolas vazias que o vento levava

segunda-feira, 18 de junho de 2012

da ressaca ao nascer do dia

Sigo o caminho, sigo os trilhos pisados pelos pés descalços
Respiro essa bomba de mediocridade por honra aos meus sonhos
Respiro e morro todos os dias.

É preciso morrer no tédio pelo menos uma vez na vida
Perder os sonhos dourados e comer de sobremesa o próprio vômito
da ressaca não permitida embrulhada pela fome que não cessa
e engolir, sem degustar, os restos do que se chama corpo, razão ou dignidade
É preciso, depois, regorgitar em matéria e voltar para a liberdade do pó
da lama ou de qualquer coisa que seja
e fazer dessa massa a argila ou a cera
do novo vaso vazio pronto para o improviso
e experimentar líquidos, texturas, gorduras velhas e filtradas
de palavras sujas e olhares limpos
e só ver a paisagem seca do peso da luz que cai nas nuvens espassas de
incredulidade e felicidade carbônica.
E seja, dessa vez, a hipocrisia do sorriso do político
a paz no frio dos que dividem o calor pela vida no nascer do dia
um guerreiro que cospe no nada que grita e pronuncia
no fluxo da programação repetida de nossa vida
Sinta e exista, pelo menos uma vez
O tempo é agora e já passou em um milésimo
mas a sua forma e história é o corpo de quem fica.
 


Esboço de uma poesia coletiva

                                                   À Flávia ou à Claudia?

Para existir a graça do espetáculo
é preciso um pouco de vontade da vida do homem.
O tempo do teatro é o imperativo.
O prédio velho, a mente velha.
O prédio é reformado, a mente não.
É porque o sol deteriora a pele
a imagem é a primeira impressão.
                               XVI/ VI/ MMXII e Denis Silveira ( http://algumacoisaparaler.blogspot.com.br/ )
                        

Ao domingo sem descanso

Com(o) projetadas janelas televisivas
o ônibus me passa as notícias do dia
a banda toca a velha marchinha repetida
da dança do palhaço louco na calçada da farmácia
pula, brinca, joga a criancinha no ar
leve e tonta, o estômago oco de vermicida
ainda não matou a fome com o rango
presente do almoço de domingo de poucas famílias.

A tela do ipod refletia a luz do suspiro da tarde
perdida no dia que o trabalho é pura fadiga
retina negra com a imagem carimbada
de um descanso da mesmice e da preguiça

Para no próximo ponto, perto da esquina da descida
torto o ônibus, quase tomba na curva fechada da esquina
Abre a porta e entra na programação ao vivo em cores
e pinta o céu com as cores da tinta da sua história viva.

sábado, 5 de maio de 2012

Desaprendendo com Manoel de Barros



Aprende-se que as flores vivas nascem na poesia das crianças
Elas são sensíveis demais para comerem uma semente
plantam nas terras inférteis dos adultos a doce sabedoria do sentir
e ver, e tocar, e ser
Nós, garimpeiros de primeira viagem, sempre esquecemos de regá-las pela manhã.
Com os pássaros aprende-se a ver a terra como o que ela é: um grande grão de pele de veludo cheio de feridas asfálticas e parasitas
Alcançamos os grandes ares, mas ainda respiramos o odor do seu suor.
Os Andarilhos, sem fronteiras para os seus sonhos, aprendem a desaprender a ciência cega do homem
que perde na procura da exatidão
a sabedoria da sensibilidade do olhar
e sentir sem mudar o que já existe
passa-se e o que muda é o mundo
ele nos recorta em cada pedacinho
em uma nova história.
E somos isso: colcha de retalhos mal-costurado. Não sabemos contar a nossa própria história.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Às margens Plácidas

O tempo no punho
no pulo da pressa
algema da condenação
do atraso da espera
o trem lento no trilho
o Pinheiros como crime
quieto e manso no sigilo
grita em ópera sua morte
no seu odor que rasga
narinas sem distinção
de cor, de dor, de bolso ou alarde
uma pista de patinação
Um espelho
que reflete a luz dos postes azuis
Morumbi, Berrini, Vila Olímpia
um poço de saudade
de algo que foi e nunca mais será
mas ainda é toda cidade
merda, esgoto, escremento, fosso
de todo lar paulistano
Jardins, Paraisópolis, Paulista
todos brilham na mesma ironia
de um olhar perdido na janela que passa.

quinta-feira, 22 de março de 2012


Será o que é o seu interior
sua mente demente, seu amor
quando perder o intolerável medo
de não ver no espelho
o nariz narciso dos outros
...
desenhos fotocopiados de revista barata.
Então o corpo deixa de parecer
para viver livre de grades:
Tornar-se
o que já é e não pode ver!

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Respira outra vez o mundo

...


Respira outra vez o mundo
chora águas pesadas de poeira
desde lajes altas da cidade
até o baobá solitário do morro acimentado
e a lavoura de café é seca nessa parte do ano
sementes e aromas transportados pelo atlântico
vida e sonhos desenhados nas cores improvisadas
desmontados nos blocos fracos da umidade


...


Respira outra vez o mundo
nasce o sol quente nas vidraças coloridas
cheios de adesivos centenários desbotados
ilumina a piscina no asfalto lavado
crianças vestidas jogam pelada
e suas peles se misturam com as cores da lama
Corre o choro diarréico pelos córregos estreitos
abertos a céu fechado brota árvores nas suas bordas
vidas e culturas se alimentam de suas hortas
o pranto encontra as artérias entupidas do rio que corta a cidade


...


Respira outra vez o mundo
nasce em flor e vapor a chuva ácida que lavou as casas
morros, ruas, avenidas, prédios, viadutos
ainda sujos de nojo, corrupção, desumanização
em alimento vence o infortúnio na pele da terra
os pedaços andantes dos seres ambulantes
sustentando força das ideias e dos amores
crescem, criam, sonham, lutam, ganham
pensam que plantam quando jogam a bituca na calçada
sonham que colhem o que compram no supermercado
com o seu dinheiro, não roubado
já foi sonegado em demasia
impostos, sossego, tempo de alegria
agora não quer mais pensar, só dormir para o outro dia
que respira mais uma vez a sua vida.

...

sábado, 28 de janeiro de 2012

desconstrução

São Paulo
na praça do meio
entre o Jd. São Bento e o Jd. Jangadeiro
Uma garota com uma revista
conversava sem palavras com as árvores enraizadas
em uma terra multicolor.
As pipas desenhavam no céu
a dança de uma inocente infância
que já não tinha mais verão.
Os olhos já eram as folhas e a fumaça
mais uma perdida na multidão
do povo que dorme no morro e trabalha no mercadão
central, municipal, cultural
o povo é tudo isso e nem sabe que é.

Mais uma blayser negra desce a curva fechada do capão
quem sabe o que é a quebrada não se veste de urubu
são eles vigiando o que é de todos
um museu ao céu aberto de restos que viraram casas de sonhos
pra só mais uma tentativa de ser um ser
já que tudo foi sempre assim.
O céu raiava as estrelas de trovôes que agora só sussuram
o desespero de uma vida sem saída
Morre mais um no morro. E o que isso significa?

São paulo, 23 de Janeiro de 2012
Polícia encontra suspeito de tráfico de drogas

A operação cracolândia é um sucesso! Segundo a pesquisa da páginadata, o narcotráfico na cidade de São Paulo foi reduzido em 7 por cento a mais comparado ao mesmo mês de janeiro do ano anterior.

Mais tráfico de dinheiro, de informação
que é só mais um descanso de retina
a revista super interessante só tem ideias desinformantes
e continua na mão daquela menina
que procura no dicionário a palavra biqueira.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012