Sigo o caminho, sigo os trilhos pisados pelos pés descalços
Respiro essa bomba de mediocridade por honra aos meus sonhos
Respiro e morro todos os dias.
É preciso morrer no tédio pelo menos uma vez na vida
Perder os sonhos dourados e comer de sobremesa o próprio vômito
da ressaca não permitida embrulhada pela fome que não cessa
e engolir, sem degustar, os restos do que se chama corpo, razão ou dignidade
É preciso, depois, regorgitar em matéria e voltar para a liberdade do pó
da lama ou de qualquer coisa que seja
e fazer dessa massa a argila ou a cera
do novo vaso vazio pronto para o improviso
e experimentar líquidos, texturas, gorduras velhas e filtradas
de palavras sujas e olhares limpos
e só ver a paisagem seca do peso da luz que cai nas nuvens espassas de
incredulidade e felicidade carbônica.
E seja, dessa vez, a hipocrisia do sorriso do político
a paz no frio dos que dividem o calor pela vida no nascer do dia
um guerreiro que cospe no nada que grita e pronuncia
no fluxo da programação repetida de nossa vida
Sinta e exista, pelo menos uma vez
O tempo é agora e já passou em um milésimo
mas a sua forma e história é o corpo de quem fica.
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