domingo, 18 de dezembro de 2011

Flores Mortas

Tocam os sinos da catedral
metem-se pelas portas metálicas
o conglomerado de corpos amontoados
nos vagões do coração dilacerado paulistano
Pulsam no suor do cansaço
a velocidade dos compromissos cumpridos ou atrasados
de mais um dia fatídico dos trabalhos mal pagos
Pelas artérias mecânicas transportados
até às células submersasno mais improváveis lares periféricos
são todos muitos: Pais, empregados, filhos e padrastos
presos no olhar extasiado dos sonhos estagnados
Olhos que adormecem abertos
não se pode passar da estação
só acordam com o novo anúncio da mais nova cerveja na televisão
São o sangue, a força, as pedras de toda essa selva
que não se permitem mais quebrar vidraças
porque as letras do anúncio indicam o proibido
não fumar, não beber, não pensar
e se quebram as regras, se tornam grãos oprimidos
caçados e propinados com nome de bandido pobre analfabeto bárbaro
bloqueados pelo braço repressor do estado
que só quer proteger a sociedade do descontrole irracional
gerado pela dor do grito do ser racional


Já passou das 10 e a novela acabou
resta o sono dos músculos desajustados
a cama precisa ser trocada, à prestação
mas nem o mínimo se pode tirar do salário
que nem engorda mais o caldo do feijão

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Vida e Morte Periferia

- Hoje eu matei um maluco lá no morro
Foi a mando do dono do torro
Cheguei na quebrada às 5 da tarde
Esperei o mané na calçada do portão da casa dele
A arma na cintura, 3 balas só
Abriu a porta, o dito cujo e a sua guria
e eu cheirado com a missão nas pupilas
a mão fria, apontou o cano na testa do mano
o gatilho estourou 3 bomba
na testa, na boca, no peito
a menina corre e tropeça no medo
o cara caiu que nem bosta no jardim da própria casa jorrando sangue pela cara
suspirou, tremeu, virou as retinas para ver sua menina
só escutou o choro do seu nome
os olhos apagaram abertos a vida.

Agora to aqui fumando um beck com os manos
nada melhor que tá no sossego de casa
meus corre da semana que vem tá empacotado
garantido a grana do mês pra larica, o pó e o cigarro
Deus me livre de sair da minha quebrada
aqui tenho os brow, o trampo, o lar e a rapaziada.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Os ecos do não

Naquela ponta do morro
era a quebrada do torto
quebravam sonhos de eras
pela cabeça do dono
daqueles males da noite
caladas na bala e na brasa
rolavam dos morros os corpos
despedaçavam em desgraça
Naquela ponta do morro
criança tonta na cola
não dança amarelinha
não quer mais jogar bola
é na esquina que brinca
passando a noite na bica
e troca o cerol da pipa
pela carreira branquinha
Naquela ponta do morro
polícia cola no muro
passa a mão na propina
limpa a sola no buxo
saca a arma na testa
esfaqueia o mamilo
atira a bala no pé
come o cu do bandido

O dia nasceu
e o rap mandou a gíria na rima
a voz do samba
canta a letra no pé da menina
explode a marginal arte
do funk na lage
a ginga de muitas
que sonham ser a mais que bonita
e no calçadão quer o macho do um milhão
Na Ipanema tomar sol, vida de cinema
Outra faceta dessa farsa mal ensaiada
dos pobres sem um tustão, os ecos do não
o nada na democracia capitalizada.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Fragmentos dos nossos tempos


De tudo ao nosso redor
O mundo nos faz míseros aprendizes novatos do tempo.
A vida desenhada nos encantos dos instantes
em um trajeto sem parada para os filósofos do presente.
Passamos e não temos tempo de cair na profundidade de nossas pegadas manchadas
nesse lamaçal de contentamentos.
Nossos corpos,
partes vitoriosas de àtomos que decidiram seguir o rumo das intolerâncias do mundo
Nossos menbros,
pedaços de terra que decidiram sair andando e, que um dia,
fatigados de tanta farsa dessa vida de ser pensante,
dissolverão nos mares contingentes de lixo orgânico.
Os pensamentos desvairados da revolução já foram impregnados pela nicotina barata do comodismo
Istala-se no fluxo de consciência
um amontoado de informações recortadas do jornal do dia seguinte
a previsibilidade nos intedia
e a notícia do hoje passa,
o dia do mundo envelhece.
A retórica dos políticos agora é o auge do fetiche da perda do pudor
E se discute estética pessoal no planalto central.
O Poeta já não finge mais
Ele é a própria desintegração dos sentimentos mais pueris
Sua pena recita poesia suja no ouvido trêmulo da puta
Sua voz buzina raivosa no vermelho inquisidor do farol fechado
Suas lágrimas escorrem pelos bueiros o corpo do cachorro morto
Até o córrego inundado que corta a cidade.
O ser trágico estraçalha no corpo covarde
as feridas roídas não superadas pela incrédula certitude
de ser o suor do próprio sentir na pele da eternidade
de ser a pulsação da poesia nas vértebras ressoantes do corpo enxuto.
E doa a sua vida pela existência da liberdade
de ser a dor, o amor, o nada e o tudo
que em uma lágrima afoga sua alma nos mares da arte
recalcada pela catarse no choro do palco do mundo.
Os universos que dançam rente aos dedos apaixonados entrelaçados
O infinito cabido no meio centímetro
dos suores, dos pudores e dos desejos comprimidos
os silêncios que cospem discursos gastos
pelo grito rouco dos olhares calejados
que preveem a catástrofe do ser já arrependido.
E metafísicos, seguimos filósofos crendo no direito da escolha.
Quem sabe um dia vejo a via-láctea do lado de fora como um tabuleiro de xadrez...
Ou quem sabe eu possa um dia reduzir o meu eu-poético à circunferência de um átomo radioativo...

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Quanto medo de dar as maos
e deixar o sol nascer vendo-as entrelacadas.
Tantas pessoas e cada uma segue o seu caminho
um sempre diferente
para chegar sempre na mesma esquina quente do prazer barato de uma noite deleitosa com um desconhecido
e se olha amassado, arranhado e lambido no espelho e nao se reconhece
e quando acorda no outro dia nunca se lembra do nome
daquele corpo nu suado
jogado cansado no seu lencol.
Para que tantas desculpas dissoluveis
se na verdade, no fundo da memoria
o seu refugio e a rua debaixo da sua casa
familiar, escura e solitaria
com um unico poste de luz opaca acesa cheio de mariposas cegas dancarinas das noites frias.

E vive mais um dia com o coracao cheio do nada de sua vida.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

(...) meu último almoço foi um prato de bolinho de chuva feito com farinha vencida e um pouco de polenta requintada
E quando senti a azia da papa massa seca em minha boca
notei que alguns dos últimos bolinhos haviam sido roubados
estavam ensopados de óleo frio
senti a nódoa engrossando a saliva

- Passar fome é tenso!
- Acho que o pior é dormir no frio....

O desamparo que nos faz resurgir secos no nada
a solidão que, inquisidora, te reduz ao ser mais abominável das esquinas mal iluminadas
Sujas e Imundas da cidade.
A dignidade da sensatez de ter o mundo como sala de estar
É o cobertor para as peripécias do frio.

- Sabe aquela senhora que sempre dorme na praça?
- Sei. Aquela que tinha dois filhos?
- Eram 3 na verdade. Ontem de manha ela estava desesperada gritando na praça, com a desesperança no domínio dos seus sentimentos e o vazio da vida diante das suas retinas...
- Meu deus! Que aconteceu com ela?
( suspiro profundo...)
- Ela estava com seu filho em seus braços, o mais novo de 2 aninhos. Ele tinha falecido de hipotermia naquela madrugada, foi a mais fria da capital, vc viu no jornal?
- É verdade, eu saí para o trabalho com 3 blusas! Mas coitada , que coisa horrível! Ela agora deve estar precisando de ajuda...
- Agora?

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

"Em Ser

Apresentam-se comumente, referenciando o que sentem, tão logo que a mente sem resposta, rende o briho no olhar, e o desapego da palavra abre espaço pro abraço. Entender pra que? Aconteceu sem que fosse assim...

E das horas que seguiram, a proximidade quem disse, resurgiu o coração acelerado, já nas particulas deste estado devéras anunciou: Teu caminho é o meu amor!

Lá, guardado com fulgor, os olhos traziam um mundo novo. Aquele que onde vivemos de verdade, e amamos pela bondade, que a justiça nos guarde! Pois a beleza está no sentir e assim, como faz a vida, fluir." Pedro Gorrão


Em Não Ser

D
isfarçam- se tão comumente com suas saídas mal resolvidas dizem que são autônimos e eletrônicos sabem tudo da vida. Sabem que sabem e querem que todos saibam isso. Na vida, o não ser paira como rei, como aquele que vive para querer ser e se limita ao estudo de quem é.

Entender para ter poder.
e as horas perdidas com as ilusões do que poderia ser toda essa razão para existir e cultivar o que uma mente brilhante fazia, tudo o angustiava, o nada era o lotado vazio da sua vida.

E a luz pela janela o retornava a poesia da vida, porque perdeu o medo de ser o calor em pele daquela tarde entardecida.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Resposta aos moinhos anatômicos

Engraçado é sentir....
e ter o mundo como um manto verde que cobre as suas mais infimas incertezas
saltar de penhascos apaixonadamente e sentir a pele irremediavelmente crespa
palpitar a seiva que derrete em melodia
a doce chuva suicida das folhas secas:
é na sua morte que a primavera canta.
e ter a grama como cama
e videar a folha que cresce enquanto,
Kamikaze bailarinas, entregam-se à queda e ao desapego
dos altos braços imponentemente tortos das arvores centenárias
a cobrirem o rosto úmido e terno da terra lavrada
circunscrevendo no ar a poesia dos suspiros da aurora
e recitá-la no brilho vivo opaco dessa tarde sem insônia.

domingo, 1 de maio de 2011

"... Aprenderas que nunca se debe dicir a un nino que sus suenos son tonterias, porque pocas cosas son tan humilhantes y seria una trajedia si lo creyese porque le estaras quitando la esperanza." Willian Shakespeare

Nao
Dessa vez nao vai sair uma poesia.
Tem dias que o lirismo nao pode suportar o peso da artomentada realidade que esfacela por dentro sem piedade, como uma granada, os nossos neuronios e coracao.
Como uma granada nao, como uma navalha.
Uma navalha que corta rente as arterias a pele desprotegida do frio das esquinas
esquecidas pela vista de quem passa
e olha aquele sujeito na sarjeta como um incomodo.
Nao
Seria muita hipocrisia da minha parte falar que nunca compreendi isso
que o conforto de uns e como televisao de cachorro para outros
e que todos nos, no fundo, temos medo de acabar solitarios em uma esquina fria e mal iluminada.
E o que temos para falar sobre o amor nessas horas?
Amor? Como seria isso nesses dias?
Ah, claro, e aquele presente caro do dia dos namorados...
Isso e prova de amor?
Nos esquecemos de onde viemos porque agora so importa pensar em nosso futuro
que nem sabemos se existira.
Nos esquecemos de que todos fazemos parte disso.
E muito facil esquecer, todo o tempo querem que facamos isso.
E so apertar um botao do controle remoto que todo o stress explode de uma so vez na sua cabeca
e sai escorrendo pelo canto da boca ate cair no canto do ralo do banheiro sujo.
E temos tanto nojo disso que nem vemos mais a podridao em nossos olhos.
nao podemos nos encarar mais frente a frente no espelho, temos medo.
Nao
Realmente nao quero agradar voce, caro leitor
E tambem nao quero ser mais um daqueles intelectuais que aponta de cima do palanque
com o dedo macio de colonia francesa
as intolerantes hipocrisias de nossa sociedade
e depois do discurso fuma um charuto cubano acompanhado de uma coca-cola.
Quero somente dizer que eu, voce, aquele cara ali na esquna, o politico corrupto, o policial mediocre, a dona-de-casa sem saida e todos os seres pensantes de carne e osso fazem parte, de alguma forma, de toda essa patifaria do nosso mundo pos-moderno.
Porque somos tao modernos
que prefirimos passar horas na frente de um computador
falando com pessoas a milhas de distancias
e nao temos coragem de encarar um olhar sofrido
ao nosso lado na fila do trem.
Porque esquecemos o que significa o verdadeiro significado da palavra humanidade
e passamos a ser dominados pelos sonhos dos outros, que querem todos os dias compor um mundo encantado montado pelas revistas caras das bancas
que contam historias fotografadas de mentira.
faca parte de um filme de verdade:
Voce ja perguntou a aquele menino no farol qual e o sonho da vida dele?
Ps:.O teclado argentino carece de acentuacao nesse momento

quinta-feira, 31 de março de 2011

Mais um dia na terra do sul

E mais uma cerveja quente me acompanha
nessa noite fria e repetida
nesse pais quebrado e desmontado
que constroi um muralha entre o meu ser
e a minha consiencia.
A que espero? A que dedico os meus infinitos minutos de tedio?
a mais uma gota de cerveja.
Nada de novo na terra dos sofridos
Minha nausea e uma mera merda egoista no meio desses entulhos subvividos
Nao basta ser miseravel de corpo, de alma e de mente
Tem que escrachar essa angustia em todas as linhas
Tem que pisar nesses que pisam no pais que nao e deles
Exilado? Aqui odos somos solitarios
e presos nessas paredes coloridas de pura mentira.