segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Não,
Os helicópteros não suam com o tráfego da avenida
E o que resta para quem come o resto
É tomar mais uma para achar que isso é uma brisa
Pássaros-cegonha com asas motorizadas
O que temos de sobremesa?
Meia marmita doada com carne estragada
para os trabalhadores, coxinha de frango com farinha vencida
Uma dose de cansaço e horas perdidas
no trânsito engarrafado dos carros com ar condicionado
E quem consegue pensar com tanta fadiga?
Ah, deixa isso para amanhã.
Hoje quero a janta requintada
e a minha cama quentinha
Ainda tenho um morro para subir

MADALENA

Não era em toda a sua completude,
a alma inexorável de uma mulher resistente
e vencida perante o tempo.
Caminhava com sua pequena bolsa de saudades por todos os lados,
com seus papéis de bombons, cartas pela metade e fotografias manchadas pelo tempo.
Seus pés pairavam entre o arrasto e o escorrego dos dias sem propósitos.
Mas um dia, caiu de cara na ladeira
e seus papéis voaram ao vento
as palavras ficaram sem eco no olhar de quem estendeu a mão
para amaciar o seu tombo implacável.
E aí raiou o sol na janela alugada de um cubículo colorido.
A porta abriu, e como um roteiro presumível
foi-se o olhar perdido com as sacolas vazias que o vento levava