segunda-feira, 24 de junho de 2013

Do vermelho ao verde-amarelo

Estamos em um tempo de renovações históricas e empíricas
A voz, antes calada pelas imperatividades dos nossos representantes nacionais,
agora berra por transformações.
Que sinfonia hipnotizante é essa que cresce e engole os sons mecânicos da cidade?

Ulisses macunaísticos se enfeitiçam com o canto das sereias perambulantes
fazem da rua o trajeto de sua navegação em busca do ouro perdido
Mas, onde estão os piratas?
Continuam apreciando os afrescos do convés de seus iates de tinta-ouro, pau-brasil e urucum.
Contratam Michelângelos para ilustrar o carnaval revolucionário, ao lado da bandeira de Minas Gerais.
Pincéis de um milímetro detalham as curvas das brancas vestidas de índias
vitrais de espelhos quebrados compõem suas sedutoras pupilas
Duas listras verde e amarela no rosto sobrepõem o vermelho fora de moda
O vermelho dos sangues mortos
à chicotadas, à granada, por espingardas
O vermelho das mãos fatigadas de tanto puxar
a corrente da âncora que firma esse barco imperialista em nossas margens
O vermelho...

Não seguimos o trajeto com espadas, estilingues ou punhais
Nossas mãos estão manchadas de guache, giz e spray
Rebelam-se nas cartolinas, escadas e paredes do caminho
A paisagem agora é pulsante de reivindicações pacíficas.

Mas quando se volta ao lar do barraco mal-iluminado
a luz da noite vem com as notícias do dia:
"Será que eu apareci na televisão dessa vez?"
Agora assistimos à nossa própria telenovela
E a lua se sente solitária.
Depoimentos de dores, falta de ar e pedaços de vidros
narram o passeio urbano da massa mal-assalariada
que se reconhece e cresce
no abraço do cruzeiro do sul que cobre os corpos manifestantes
No Hino Nacional que assovia nosso amor pela terra que já foi indígena.

" Oh pátria amada,
idolatrada
Salve, Salve!"

Conquistamos algo? Sim.
Mais do que tudo, a conscientização e a força da ação.
E até a superação da nossa preguiça niilista.
Mas ainda voltamos para casa no aglomerado anônimo de pastas e mochilas
que se espremem nos contêineres ambulantes.

Descobrimos que precisamos marchar e lutar
para vermos o que é o mundo e sentirmos que todos fazemos parte dele.

Mas será que quando diluirmos os corpos dos nossos conterrâneos nas hidrelétricas amazônicas
e vendermos toda a nossa energia não-renovável
para o progresso de nossa ordem
a preço de banana
continuaremos a gritar?
E quando o nosso salário mal-pago não puder pagar
nosso retrato televisivo
continuaremos a marchar?
e quando comprarmos tomates
a preços turísticos
continuaremos a lutar?
Não sei se sentiremos essa dor no coração e nas moedas de nossos bolsos furados...

A flor criou patas e vagueia pela cidade, mas para onde ela vai?
O caule dela tem uma tela com o plim-plim cortado por uma listra vermelha.
Será que ela continuará a flanar, se um dia,  a luz da tele - tela se apagar?


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