Deixei o caderno perdido para não me deparar com as letras
Elas revelam o que o meu corpo sofega e o que a minha alma deseja
dormi com redemoinhos de ideias desvairadas
me tranquei nos medos das retóricas e das metáforas
nunca respondidas
Me perdi, faz anos, no choro e soluços das dúvidas bastardas
que eu encontrei perdidos entre as indignações da minha cidade
tantas injustiças, tanta insanidade
Mas a existência de tudo que é pré-humano sublima a minha descrença
Pode-se matar, vender-se ou roubar,
Mas ninguém foge da sede ou do sol do meio-dia.
Lavei meu pranto no sol escaldante
que desfacela as nuvens e resseca as crostas das peles
para que ele sentisse a luz que impera sobre todas as perversidades humanas
marcá-lo e dar um motivo natural para prosseguir
e não se trancar na inquietação de não admitir
o que foi visto
e mudar a vista
Fazemos também parte de todo esse ciclo.
Fico ausente de mim porque quero me safar da saudade
Que meu ser tem de mim mesma quando respirava aqueles ares
Agora leio o meu lirismo codificado em palavras borradas de uma fraca tinta
O meu choro, agora, faz parte dessa chuva àcida
que queima em praga a pele e o capô daquele carro importado
a chuva também atinge à todos
agora espero que ela derreta o meu desespero de não ser o que tenho que aprender a ser
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